Em um dia marcado por confusões entre permissionários e condutores do aplicativo, taxistas emboscaram grupo de irmãos e os agrediram com paus, pedras e facas. Caso foi parar na delegacia
Foto: Daniel Ferreira.
O acirramento dos ânimos entre taxistas e motoristas do Uber nesta terça-feira (31/5), com uma série de conflitos, por pouco não acabou em tragédia à noite. Quatro irmãos passaram momentos de terror provocados por um grupo de permissionários. Eles haviam acabado de desembarcar no Aeroporto Juscelino Kubitschek quando entraram no carro da família. O grupo iria para Ceilândia, mas foi fechado por um taxista, que acreditava se tratar de um condutor do Uber. O veículo freou bruscamente e houve a colisão.
Em seguida, o taxista pediu que o seguissem para que acertassem os valores causados pela batida. Os carros pararam no ponto de apoio de táxis perto dos terminais aeroportuários. Quando os quatro irmãos desceram do carro, foram cercados por um grupo de pelo menos 10 permissionários. Naquele momento, começou a pancadaria.
Armados com paus, pedras, facas, cadeiras e cassetetes, o grupo começou a espancar os irmãos. Um deles, Klecio Alves, contou que teve medo de morrer. “Os taxistas estão armados como uma gangue. Eles ficam esperando os motoristas do Uber. Quando desci do carro, levei logo um chute e caí. Em seguida, começaram as pauladas na minha cabeça”, disse, mostrando os ferimentos à reportagem.
Outro irmão, Kledson Alves (foto principal) levou duas facadas de raspão e teve um dente quebrado. “Os taxistas estão agindo como uma quadrilha de traficantes lutando pelo domínio da região. Nós não morremos por causa de uma mulher que gritou que não éramos do Uber” disse.
Após a mulher gritar que se tratava de um engano, os motoristas se afastaram. No entanto, segundo Klecio, um dos agressores ameaçou atear fogo no veículo da família. “Entramos no carro e fugimos o mais rapidamente possível. Escapamos da morte, essa é a verdade” desabafou.
O grupo seguiu para a 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul), onde foi registrada ocorrência como lesão corporal. Entretanto, pode ser configurada como tentativa de homicídio, a depender da evolução das investigações. As quatro vítimas serão encaminhadas para o Instituto Médico Legal (IML) para realização de exames de corpo de delito ainda nesta noite.
Na delegacia, foi descoberto que a placa do Voyage que fechou o carro da família era de uma motocicleta. Segundo a polícia, a ilegalidade tinha por objetivo dificultar a localização do veículo.
Delegacias
As confusões começaram à tarde, quando um grupo de motoristas do aplicativo de transporte de passageiros foi à 2ª DP (Asa Norte) registrar um boletim de ocorrência. Segundo eles, os taxistas estariam espalhando óleo na pista por onde os condutores do Uber passam.
A iniciativa terminou em confusão. Enquanto os motoristas faziam o boletim de ocorrência, representantes dos permissionários chegaram na unidade policial. Eles discutiram e alguns carros foram depredados.
Os grupos brigaram em frente à delegacia e acabaram encaminhados à 5ª DP, que apura os fatos. Após o incidente, os ânimos continuam exaltados. Por volta das 19h, um grupo de taxistas encontrou com condutores do aplicativo em um posto de gasolina nas proximidades do aeroporto. Eles jogaram pedras nos vidros dos carros e a Polícia Militar foi acionada e os envolvidos foram encaminhados à 1ª DP (Asa Sul).
À noite, foram dois carros depredados. Reginaldo Araújo, 21 anos, é motorista do Uber Black há cinco meses. O pára-brisas e o capô do carro dele foram danificados por pedras e paus. “O prejuízo deve ultrapassar RS 3,5 mil”, lamentou, acrescentando que cerca de 60 taxistas foram responsáveis pelas agressões.
Por volta das 20h30, os motoristas seguiram para a 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul). Cerca de 50 carros seguiram até a unidade policial em fila. Eles buzinaram e se reuniram na frente do local com advogados para registrar a ocorrência. Pouco depois, chegou o grupo que havia sido espancado.
Projeto de lei parado
Atualmente, há um projeto de lei para regulamentar o Uber parado na Câmara Legislativa. O PL nº 777/2015 foi apresentado pelo Palácio do Buriti em novembro e, embora tramite em regime de urgência desde então, praticamente não avançou na Câmara Legislativa. Ainda assim, já recebeu 14 emendas, apresentadas no relatório do deputado Professor Israel (PV).
Entre as modificações ao texto original, constam a liberação do Uber X e a possibilidade de revezamento de motoristas entre turnos em um mesmo carro — o que aumentaria a oferta do serviço. Medidas atacadas frontalmente pelos taxistas e por alguns parlamentares. O documento original do Executivo previa somente o uso do serviço de luxo, o Uber Black. Agora, ante os conflitos na Casa, a tendência é que o texto sofra novas modificações antes da apreciação na Comissão de Orçamento e Finanças.
Nota oficial
Na noite de terça (31), o GDF publicou nota sobre o ocorrido. “A Secretaria da Casa Civil, Relações Institucionais e Sociais lamenta o confronto ocorrido entre taxistas e motoristas do aplicativo nesta terça-feira. Diante do episódio, reforça a necessidade do projeto de lei que tramita na Câmara Legislativa desde novembro do ano passado, em regime de urgência, entrar na pauta da Casa. A regulamentação do transporte individual privado oferecido por meio de aplicativos on-line é fundamental para definir regras e estabelecer critérios para a utilização do serviço e assim evitar situações como essa”.