O sabatinado relatou experiência com auditoria hospitalar e enfatizou a importância do planejamento estratégico para evitar diversos problemas que o Iges está enfrentando
A indicação de Gislei Morais de Oliveira para ocupar o cargo de diretor-presidente do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges-DF) foi aprovada pela Comissão de Educação, Saúde e Cultura (CESC) da Câmara Legislativa na tarde desta segunda-feira (20). O indicado pelo governador Ibaneis Rocha assume o cargo no lugar de Gilberto Occhi, que pediu exoneração no último dia 30. Transmitida ao vivo pela TV Web CLDF e pelo portal da Casa no Youtube, a audiência pública de arguição foi mediada pela presidente da CESC, deputada Arlete Sampaio (PT), com a participação dos deputados Delmasso (Republicanos), Jorge Vianna (Podemos), Guarda Jânio (PROS) e Leandro Grass (Rede).
No cargo de superintendente do Instituto de Cardiologia do DF até a última sexta-feira (17), Gislei Oliveira, mais conhecido como general Gislei, atuou como superintendente administrativo, diretor administrativo e diretor de Planejamento do Iges, entre abril de 2019 a outubro de 2020, além da carreira no Exército, onde ingressou em 1973. O Iges-DF é responsável pela gestão dos hospitais de Base e de Santa Maria e pelas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) de Ceilândia, Núcleo Bandeirante, Recanto das Emas, Samambaia, São Sebastião e Sobradinho.
Ao se dizer contrária ao modelo do Iges, a deputada Arlete Sampaio criticou a divisão do Sistema Único de Saúde (SUS).Pelo seu posicionamento, a deputada declarou: "Embora estejamos aqui para aferir se a pessoa indicada pelo governador tem condições de assumir a gestão do instituto, isso não significa que somos cúmplices dessa indicação, a responsabilidade é exclusiva do governador".
Aos diversos questionamentos e apontamentos sobre falhas na gestão financeira e administrativa do instituto feitos pela parlamentar, Gislei considerou que "o modelo não é ruim", uma vez que os contratos devem ser acompanhados em várias estâncias, como os conselhos de administração e fiscal, e por órgãos de controle, a exemplo do Tribunal de Contas do DF. No entanto, ele concordou com a possibilidade de que esse mecanismo "não esteja funcionando".
Em linha tangente, o deputado Jorge Vianna lembrou que o general Gislei é o quarto presidente do instituto sabatinado pela CESC. "Parece que estamos escolhendo errado, mas, na realidade, não escolhemos, apenas avaliamos o currículo a fim de analisar se a pessoa tem condições técnicas de gerir o instituto", esclareceu. O distrital alertou, ainda, que os parlamentares são cobrados pela população por essa chancela à indicação, ao acrescentar que "a cada dia, o Iges se afunda no mar de denúncias e falta de gerência". Para ele, o modelo do instituto deveria ser alterado para fundação, a exemplo da Fundação Hemocentro. Vianna chamou a atenção para a ausência de formação na área de saúde do indicado, a quem fez diversos questionamentos.
Uso político da saúde
Gislei disse que tem condições de fazer gestão em saúde, embora não seja médico, e citou sua experiência em auditoria hospitalar durante sua carreira no Exército. Ele enfatizou a importância do planejamento estratégico, peça que define os princípios e valores da instituição, e que evitaria, segundo ele, diversos problemas que o Iges está enfrentando hoje. "A política de saúde é uma oportunidade que todas as organizações hospitalares têm para fazer uma boa gestão porque cria diretrizes estratégicas e regras", avaliou. Por outro lado, ele enfatizou que "o uso político da saúde é o grande problema e uma ameaça para as instituições de saúde". Ele entende que não adianta trocar de gestor enquanto a organização de saúde não estiver alheia ao uso político.
Ao responder às indagações de Vianna, Gislei disse ser favorável ao uso do cartão corporativo com transparência. Sobre a compra de materiais hospitalares e gerência de pessoal, entre outros, o general considera que vale a "disciplina em seguir regras e normas".
Caos administrativo e financeiro
Irregularidades e nepotismo dominam o Iges, na avaliação do deputado Leandro Grass (Rede), que criticou o uso do cartão corporativo, "uma farra com o dinheiro público". Para ele, o instituto acolhe indicações políticas desde o início, prática que permanece atualmente em vários âmbitos. Entre outros exemplos do "caos administrativo e financeiro", Grass apontou a dívida de mais de R$ 350 milhões, e questionou onde haverá cortes para sanar o problema. O deputado solicitou o envio dos relatórios de auditoria do instituto a CLDF e cobrou prazos.
Em sua declaração de voto, Grass justificou sua rejeição à indicação por entender que o instituto deva ser extinto, mas deixou claro que sua posição não é sobre a pessoa do general, mas sim em referência ao Iges. "Só tem uma maneira de pagar dívida, que é gastar menos, temos que ver onde reduzir", considerou Gislei, ao alegar que "é muito difícil para quem está chegando" dar respostas e estipular prazos. Ele defendeu medidas estruturantes e responsabilização. "Quem conhece o militar, sabe que ele não compactua com fraude e violação", afirmou.
Controle e transparência
Por sua vez, o deputado Delmasso (Republicanos) lembrou que é defensor do modelo adotado pelo Iges, o qual precisa ser aperfeiçoado na área de controle e transparência. Nesse sentido, ele indagou o indicado sobre o planejamento a fim de aumentar o controle e a transparência na gestão de contratos daquele instituto. "Precisamos melhorar a automatização dos processos", respondeu Gislei, ao observar que a estrutura de compliance, entre outras de controle institucional, está montada, sendo que falta colocá-la em adequado funcionamento. Já o deputado Guarda Jânio cobrou mudanças no instituto e recomendou humanização e dignidade no atendimento diário.