Iniciativas promovem acessibilidade digital para pessoas surdas

 Setembro Azul é o mês da visibilidade da comunidade surda brasileira; menos de 1% dos sites cumprem lei que prevê ferramentas inclusivas

                                                                         Crédito: Divulgação Grupo Marista

A inclusão de pessoas surdas requer que sites e serviços online ofereçam a opção de tradução para a Língua Brasileira de Sinais – Libras. O promotor de merchandising Tiago Alves da Silva, que é surdo, enfrentou barreiras digitais ao procurar resgatar uma carta de crédito de um consórcio habitacional neste período de pandemia da covid-19, quando boa parte dos serviços passaram a ser somente virtuais.

Tiago conta – com ajuda do tradutor de Libras Alexander Pimentel – que, muitas vezes, mesmo quando há plataforma de tradução nos sites, ele a solicita, mas não é atendido. “As pessoas que falam comigo não conseguem me entender e fico sem resposta. Para mim, isso é desesperador. Coloque-se no meu lugar (surdo) e veja como se sentiria, neste contexto de pandemia, isolado pela falta de audição”, questiona Thiago.

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei N.º 13.146, de 2015) prevê, no Artigo 63, que os sites de empresas públicas e privadas sejam acessíveis para pessoas com deficiência. Apesar da previsão em lei, apenas 0,89% dos 16,89 milhões de sites ativos no país são completamente acessíveis, de acordo com pesquisa conduzida pela BigDataCorp, em parceria com o Movimento Web para Todos.

Chamado de Setembro Azul, este é o mês de visibilidade da luta da comunidade surda pelos seus direitos, dentre eles, a inclusão digital, que ajuda o cidadão a pagar suas contas, fazer contatos para serviços e receber atendimentos básicos, como saúde e educação. O Brasil tem aproximadamente 10 milhões de pessoas surdas, de acordo com estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Destes, 2,7 milhões têm perda auditiva profunda.

Inclusão em defesa da infância

Há iniciativas que buscam facilitar a inclusão digital. O site Defenda-se (www.defenda-se.com), que promove a autodefesa de crianças contra a violência sexual, inclui em seu conteúdo vídeos com tradução para Libras, bem como audiodescrição e legendas. O conteúdo audiovisual tem uma linguagem acessível, amigável e preventiva, que apresenta situações do cotidiano em que as meninas e os meninos podem agir para sua autodefesa e segurança. O projeto também busca que as crianças possam reconhecer os seus direitos sexuais.

Além disso, o próprio site da campanha Defenda-se conta com tradução em Libras. A tradutora virtual Maya facilita a comunicação com a comunidade surda. Para ter acesso a esse recurso é necessário entrar no site e clicar no ícone “Acessível em Libras”, no canto direito da tela. A partir disso, Maya começará a traduzir o conteúdo para a língua dos sinais.

“São ferramentas que ampliam o acesso à informação para as infâncias. Quanto mais efetiva e abrangente a comunicação, maior será o número de crianças que terão acesso a conteúdos educativos que contribuam para seu desenvolvimento integral”, explica Bárbara Pimpão, gerente do Centro Marista de Defesa da Infância (CMDI), do Grupo Marista, responsável pela campanha Defenda-se.

A inclusão digital também está presente em outros conteúdos do CMDI, como o projeto Brincadiquê? Pelo Direito ao Brincar, que promove a qualidade da educação com o fortalecimento do direito ao brincar na infância. No site do Centro de Defesa, é possível filtrar os conteúdos por ferramentas de acessibilidade, e aproximadamente 40 vídeos sobre direitos de crianças e adolescentes contam com a tradução em Libras.

Representatividade desde a produção

A mestranda Luana Arrial Bastos, do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia em Saúde (PPGTS) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), diz que é preciso ir além de questões técnicas de programação e incluir as pessoas surdas na produção de sites e aplicativos acessíveis. Para desenvolver produtos e pesquisas por meio do PPGTS, a equipe conta com colaboradores designers e intérpretes surdos, que aplicam funcionalidades após relatos de situações vivenciadas.

“Sem as ferramentas de acessibilidade, as pessoas com deficiência não têm informação. É preciso lembrar que boa parte dos surdos não compreende português e se comunica por meio de Libras, uma língua que tem a estrutura de formação de frases muito diferente do português. Uma pessoa que não tem visão precisa de informação com acessibilidade que permita dar detalhes da imagem. Só dessa forma compreende as informações”, exemplifica.

Em função do trabalho de Luana com Libras e tecnologia em saúde, ela já ajudou muitas pessoas a terem acesso a sites. Tiago, com sua carta de crédito, foi uma dessas pessoas.

Vídeos da campanha Defenda-se

Site com tradução simultânea em Libras (ícone do lado direito da página): https://defenda-se.com

Campanha Defenda-se com tradução em Libras: https://defenda-se.com/videos/#deaf   

Conteúdos do Centro Marista de Defesa da Infância com tradução em Libras: https://centrodedefesa.org.br/publicacoes/?acessibilidade=libras

Sobre o Centro Marista de Defesa da Infância

O Centro de Defesa da Infância (CMDI) do Grupo Marista é uma organização que atua há 11 anos na proteção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes, por meio do fortalecimento da sociedade civil, da qualificação de políticas públicas e do controle social. Desenvolve campanhas e assessoramento sobre o enfrentamento à violência sexual e outros temas referentes aos direitos humanos, como a participação infanto-juvenil e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O CMDI atua também no monitoramento de dados e do orçamento público do estado do Paraná e promove ações de incidência política em articulação com governos, redes, fóruns, comissões e conselhos de Direito. Mais informações: http://www.centrodedefesa.org.br.

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