Comunidade investe na valorização do cultivo da mandioca por produtores quilombolas da região metropolitana de Belém

 Produtores de Espírito Santo do Itá vão ter participar de audiência pública do Conselho Nacional de Justiça sobre titulação de território tradicionais

                                                         

Sionei Leão / Agência Plano News
27/10/20223


Valorizar o cultivo da mandioca por povos tradicionais da Amazônia. É a semente que uma comunidade quilombola instalada a 45 km de Belém (PA) está ajudando para melhorar o  legado recebido dos índios e assegurar a qualidade de vida dos descendentes de escravos

A comunidade quilombola de Espírito Santo do Itá, no município de Santa Izabel do Pará, lançou nesta semana o embrião de uma iniciativa inédita no país. Foi a 1ª Mostra do Museu da Mandioca, mostrando como o tipiti (instrumento artesanal) sofre a ameaça de ser trocado pela imprensa industrial.


Desde sua abertura na terça-feira passada (24) até sua conclusão nesta sexta-feira (27), o Museu da Mandioca recebeu todos os dias grupos de estudantes de escolas municipais de Santa Izabel.


A  1ª Mostra produziu flashes de memória histórica e geográfica da região do município paraense de Santa Izabel e proporcionou momentos prazerosos aos visitantes, atestou a professora e historiadora Minervina Souza, uma das entusiastas da iniciativa.

Além de reunir receitas, relatos, dados nutricionais e científicos da cultura da mandioca, o museu também vai resgatar as trajetórias de famílias quilombolas da comunidade de Espírito Santo do Itá, que por décadas tem vivido do cultivo do tubérculo. 

A Mostra foi aberta nessa terça-feira (23), relatos históricos sobre alimentos, equipamentos artesanais e industriais usados na produção e descobertas científicas sobre a planta e seus empregos em diferentes segmentos. Esse é o primeiro evento voltado para a criação do Museu da Mandioca,  se encerra nesta sexta-feira (27). 

Minervina Souza comenta que antes de ter o seu espaço físico, para o pleno funcionamento, a comunidade já estava preparando estudos pertinentes à atividade e também do ponto de vista administrativo. 

Para a historiadora, o Museu também será um espaço prazeroso por possibilitar tantas memórias e surpreender os visitantes com informações inéditas. Por esse motivo, Minervina Souza acredita que o equipamento público, quando estiver totalmente pronto vai atender demandas de pesquisadores de vários lugares do país e de várias áreas do conhecimento e de forma geral toda a sociedade.

Outra ação da comunidade é difundir a luta de resistência pela homologação das terras ocupadas pelos quilombolas da Amazônia, juntando-se ao coro dos povos indígenas pelo respeito às suas reservas.


Líderes da comunidade se preparam para participar da audiência pública sobre “ audiência pública sobre Posse, Propriedade e Titulação dos Territórios Tradicionais” a ser promovida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 17 de novembro, das 9h às 18h, na sede do CNJ, com transmissão pelo canal do órgão no YouTube.


Segundo estudiosos ligados à Associação da Comunidade Quilombola de Espírito Santo do Itá, a área ocupada conta com cerca de 180 habitantes, no meio rural do município de Santa Izabel do Pará.

Essa comunidade de produtores rurais se difere das demais existentes no município por ter população negra que se auto reconhece como descendente de escravos e pelo cultivo e produção da mandioca e seus derivados.


Conforme contam os moradores mais antigos da comunidade, a história de Espírito Santo de Itá começou no século XVII, quando um grupo de franceses, chefiado pelo fidalgo Saint, trouxe escravos africanos do estado do Maranhão, se apropriou do território que hoje é povoado pela comunidade de Boa Vista, em Santa Isabel.

Ocorre que, ameaçados pela presença dos portugueses, os franceses foram obrigados a deixar o lugar, inclusive os escravos, os quais, a partir de então, tornaram-se livres. Na fuga os estrangeiros deixaram a imagem de São José, que hoje é o padroeiro da comunidade.


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